Brasil precisa produzir envolvente que facilite a realização da pesquisa em empresas


Brasil precisa criar ambiente que facilite a realização da pesquisa em empresas

Avaliação foi feita por Carlos Henrique de Brito Cruz em palestra na cerimônia de fecho do Ciclo de Conferências FAPESP 60 Anos (foto: Léo Ramos Chaves / Pesquisa FAPESP)

15 de dezembro de 2022

Elton Alisson  |  Sucursal FAPESP – O Brasil precisa produzir um envolvente que facilite para as empresas desenvolverem pesquisa própria de modo a impulsionar os investimentos em ciência, tecnologia e inovação (C,T&I) no país e, consequentemente, seus benefícios econômicos e sociais.

A avaliação foi feita por Carlos Henrique de Brito Cruz, vice-presidente sênior da Elsevier Research Networks e ex-diretor científico da FAPESP, em palestra na cerimônia de fecho do Ciclo de Conferências FAPESP 60 Anos, realizada na quarta-feira (14/12).

“Ainda não se reconheceu no debate sobre ciência, tecnologia e inovação no país que a empresa é um lugar muito importante da pesquisa. No mundo inteiro a empresa é um lugar onde se cria conhecimento, às vezes mais avançado do que na universidade”, disse Brito Cruz. Mencionou que um exemplo nesse sentido é o que está ocorrendo na computação quântica, em que empresas uma vez que Google, Microsoft e IBM estão liderando a pesquisa nessa dimensão.

“A empresa é um lugar importante da pesquisa que vai levar ao desenvolvimento econômico. A maior secção da economia de um país não é movida por ideias da universidade, mas por pessoas que se educaram nessas instituições e foram trabalhar em empresas. É daí que vem o PIB [Produto Interno Bruto]”, avaliou Brito Cruz. Para ser um lugar relevante da pesquisa, a empresa precisa empregar pesquisadores e não só estabelecer parcerias com universidades, ponderou.

O número de pesquisadores contratados pelas empresas no Brasil, todavia, está aquém da média de outros 44 países, ocupando as últimas posições nesse quesito, ao lado da África do Sul e da Argentina. De conformidade com dados relativos a 2017, no Brasil há 59 milénio pesquisadores trabalhando em empresas – equivalente a 290 por milhão de habitantes e a 19 por bilhão do PIB do país. Na Coreia do Sul, do qual tamanho da população equivale a um quinto da brasileira, há seis vezes mais e, nos Estados Unidos, o número é dez vezes maior, comparou Brito Cruz.

Os investimentos feitos pelas empresas estabelecidas no Brasil em pesquisa, desenvolvimento e inovação (P,D&I) também estão aquém da média mundial. Segundo dados do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), do totalidade de R$ 89 bilhões de dispêndios feitos no país em 2019 para essa finalidade – que equivalem a 1,21% do PIB do país –, 51% foram oriundos do governo e de universidades públicas e privadas e 49% de empresas.

A despeito da geração nos últimos anos de subsídios voltados a estimular a realização de pesquisa nas empresas esse percentual se manteve e nunca superou a marca de 0,6% do PIB, sublinhou Brito Cruz.

“No Brasil, criou-se a teoria de que a inovação é movida a incentivos, mas o problema é o envolvente econômico que não obriga as empresas brasileiras a quererem ser as melhores em suas áreas no mundo. Por mais que se dê incentivos, elas não fazem isso”,  disse.

De conformidade com dados apresentados por Brito Cruz, o totalidade de dispêndios feitos por diversos países para incentivar a pesquisa nas empresas vem caindo desde 1980 e atualmente está aquém de 10% do totalidade de gastos em C,T&I, a despeito de os investimentos em P,D&I de suas empresas terem aumentado no mesmo período. Isso seria mais um indicador de que não são subsídios diretos que estimulam a pesquisa nas empresas.

“Não é o traje de ter a Lei do Muito que move a empresa a fazer pesquisa, mas a competição, a procura por novos mercados que faz com que queiram fazer amanhã um pouco melhor do que faziam ontem. Quando ela quiser se desenvolver, ela pode se beneficiar dos incentivos”, avaliou.

Impulso dos gastos

Segundo dados apresentados por Brito Cruz sobre a variação dos gastos governamentais em C,T&I nos últimos anos em diversos países, o aumento do dispêndio mundial para essa finalidade tem sido puxado pelos investimentos das empresas.

Nos Estados Unidos, por exemplo, o gasto totalidade anual das empresas em P,D&I soma US$ 400 bilhões. Em contrapartida, o orçamento anual da sucursal governamental norte-americana de apoio à pesquisa – a National Science Foundation (NSF) – é de US$ 8 bilhões.

“Os gastos das empresas americanas em pesquisa são 400 vezes maiores do que o dispêndio anual que a NSF fará para estribar o programa lançado recentemente no país para incentivar o desenvolvimento de chips [o Chips and Science Act, que aportará US$ 52 bilhões nos próximos anos para reforçar a pesquisa e o desenvolvimento de semicondutores no país],” comparou Brito Cruz.

No caso do Brasil, para aumentar o totalidade de dispêndios em C,T&I de 1,2% para 2% do PIB nos próximos anos, por exemplo, a tributo das empresas também será importante. “A maior secção dessa diferença terá que ser carregada pelo gasto em pesquisa nas empresas e não pelo governo”, disse.

A 17 ª Conferência FAPESP 60 anos pode ser assistida na íntegra em https://www.youtube.com/watch?v=1Yh3Qhaewx0&t=1540s.

 



 
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